Na casa onde trabalha “Pequena Jean” , empregada crente, são vivídas as cenas comuns de desagregações familiares, disputas, ridicularização da fé cristã...
A peça mostra cenas de dança, pantomimas, quadro com exercício...
Até quando vai a resistência do mal???
Todos dançam ao som da música “Pequena Jean”. Logo após, se posicionam de modo a encetar a peça. Pequena Jean está passando o pano no chão.
Danclei – O que você está fazendo aqui, sua bastardinha?Massara – Não fala assim com ela não. Toma, bebe seu leite.
Danclei – Não acredito. Será que a senhora ainda não aprendeu que leite tomado na minha idade é totalmente inútil e prejudicial. Eu li na revista New Cience que a lactose só é benéfica quando se está na idade infantil. Mas a senhora é muito burra mesmo! Eu morro de vergonha da senhora devido a sua burrice.
Dúley entra em cena abraçado com duas meninas de comportamento vulgar.
Dúley – É isso aí, gente. Bem-vindas à minha casa. Welcome to the jungle (risos). É, selva mesmo. Minha casa é uma verdadeira selva. Tem mais feras que o mundo lá fora. O negócio é pegar uma cervejinha aqui na geladeira para ficar legal.
Assíria – Meu Deus! Será que não tem ninguém para dar banho nesse gato?
Pequena Jean pega o gato que estava no colo de Assíria é leva-o para perto de uma grande bacia. Ariobar entra em cena com palito na boca. Caminha até o proscênio e exprime está escondendo algo de sua família. Dúley se aproxima de seu pai Ariobar. Dúley diz algo para seu pai de modo que só os dois entendem e ambos dão uma risada, alheios aos demais que estão na sala. Logo após, Dúley pede dinheiro pro seu pai.
Dúley – Sabe como é que é, né pai, elas estão aí e vai rolaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaar...
Ambos riem. Ariobar pega algumas notas e entrega para Dúley. Este chama as meninas e sai de cena com ambas. Ariobar se aproxima de Danclei.
Ariobar – Ora, ora. Se não é o menino prodígio, o orgulho da família.. Quando vai ser mesmo a festa do entrega do prêmio que você recebeu. Como você quer que esteja lá? Com traje a rigor? A minha roupa de garçom é a roupa mais social que eu tenho. Mas de qualquer jeito você vai ficar com vergonha da minha presença lá, não é, orgulho da família.
Danclei – Se eu fosse me envergonhar eu não o teria convidado. E se o senhor não tiver com disposição para ir, não me incomodo. Ausência paterna na minha criação é o que eu mais senti em toda a minha vida mesmo.
Danclei de cena.
Ariobar – Ah, como é bom estar novamente na minha casa, um verdadeiro festival de malucos. Um filho viciado em estudo, o outro, viciado em farra. E ainda tenho que aturar olhar para o rosto dessa garota que sempre me faz lembrar a minha relação extraconjugal. Ainda bem que você me perdoou, né, benzinho. (acaricia Massara por traz). E para completar o manicômio, a minha cunhada paranóica.
Assíria – Tira essas mãos de mim, Ariobar! Me deixe em paz! Me deixe em paz! E cadê esse gato. Será que essa menina vai continuar sempre com essa lerdeza! Ô menina incompetente! Anda logo com esse gato!
Massara – Assíria calma.
Assíria – (gritando) Calma nada! Devolve logo esse gato pra mim! Vamos menina! Sua estraga prazeres! Está querendo roubar a alegria dos outros. Bastarda! Está vendo no que resultou o seu caso extraconjugal, Ariobar. Numa garota bem reles, bem vulgar, bem mesquinha e estúpida. E ainda por cima quer roubar a alegria dos outros.
Massara – Ariobar, pega o remédio dela pra mim.
Ariobar – Eu, heín, Massara. E eu tenho cara de enfermeiro de cunhada maluca. Manda essa garota aí pegar.
Ariobar sai de cena.
Massara – Pequena Jean, pega lá o remédio dela pra mim.
Assíria – Não! Não deixa essa fedelha pegar no meu remédio. Se tomar alguma coisa tocada por essa fedelha, eu vou tomar maldição para mim. Não! Não! Não!
Pequena Jeam sai de cena por um lado e Assíria e Massara pelo outro. Fica só o gato em cena.
Gato – Miau, miau, miau, miau, miau.
Coreografia jazz-rock.
Danclei – O que você está fazendo aqui na minha casa?
Menina Vulgar 1 – Ah, é mesmo. Doideira minha, né (ri bastante). Também né, vocês são iguaizinhos. Bom, depois eu passo aqui para falar com o Dúley. Tchau.
Pequena Jeam entra em cena e, novamente, fica limpando o chão.
Danclei – Bastardinha, você vai limpar o chão de novo? Você faz isso o tempo todo. Você não tem amor próprio não? Ô gente para gostar de ficar perto do chão, perto do que é raso. Daqui a pouco vou ver o meu próprio reflexo de tanto que você limpa. (a parte). Como se eu já não o visse, seja no espelho, seja fora do espelho. (ao público) Ouviram, é seja! Seja que se fala, e não “seje”! “Seje” não existe. Ai, tudo agora tem me ferido os ouvidos. Estou sem nenhuma paciência para tolerar gente burra do meu lado. Prefiro me isolar no meu cantinho intelectual. Ou então me divertir com a miserável condição humana. E não é por que eu nasci do outro lado do ar condicionado que eu não posso migrar para lá. Vou para lá o mais rápido possível, pois eu tenho Q. I.. Q. I. Bastardinha, me diga uma coisa: você gosta desse sua condição. Sim, porque você está sempre com esse sorrisinho no cantinho dos lábios. Sempre fez tudo o que era para uma empregada fazer, desde que o nosso pai caiu na bancarrota e não tinha mais dinheiro para contratar uma. Mas nunca reagiu a nenhum insulto nosso. A Bíblia e aquele pastor doutrinaram você direitinho, hein? E acho que você não só lê a Bíblia não. Acho que você lê alguma coisa sobre budismo. Sabe, Pequena Jeam, eu jamais gostaria de ser como você. Tão fraca, tão subserviente, aceita tudo que lhe falam, que lhe impõem. Eu confesso a você que só te provoco para ver a sua reação. Mas você faz cair por terra o princípio de que toda a ação gera uma reação. Se você fosse o recipiente repleto de líquido usado por Lavoisier, para constatar que corpo imerso num líquido gera uma força igual e contrária equivalente ao peso do volume do líquido deslocado, o líquido com certeza ficaria ali, paradinho, paradinho, sem se deslocar, e o Lavoisier ia pirar. Porque a gente empurra para dentro de você provocação, injúria, preconceito, desdém, e você não transborda nenhum tipo de ira, nenhum tipo de reação.
Pequena Jeam – Tem outras coisas também que eu não boto pra fora.
Danclei – O que por exemplo?
Pequena Jeam – Lembra daquilo que aconteceu com o nosso irmão há cinco anos?
Danclei – Como assim?
Pequena Jeam – Eu estava lá.
Pequena Jeam prossegue passando o pano no chão.
Danclei – (deixa o livro cair no chão) Como assim estava lá? Como assim estava lá? Eu não sei o que você está falando. Fala! Fala Bastardinha! Ah já sei. Você está jogando verde para colher maduro. Vocês crentes têm essa capacidade de manipular o emocional das pessoas. Vocês proferem uma frase vaga do tipo “eu estou sentindo que tem alguém aqui com um problema na área familiar. Se tem, vem aqui na frente para receber a bênção da resolução do problema”, ou então “eu tenho uma palavra para você vinda diretamente do céu que os próximos dias da sua vida serão diferentes”, e aí seguem-se gritos de aleluia, glória, e...
Pequena Jeam – Você está racionalizando, como você sempre fez. E eu não preciso ficar me justificando. Apenas te digo que é esse o seu espinho na carne, e você sabe muito bem o que eu estou falando, pois você conhece a Bíblia, mesmo achando que ele é um livro como outro qualquer, mas conhece. Então fica na sua, porque a misericórdia Dele já é suficiente pra você.
Pequena Jeam sai de cena.
Danclei, sozinho em cena, totalmente absorvido em seus pensamentos. Depois pega o livro, morosamente. Dúlei entra em cena.
Dúlei – Danclei!
Danclei – Oi, Dúlei.
Dúlei – Danclei, o que você está fazendo aí no chão, rapaz. Vai ajudar a pequena Jeam a fazer faxina na casa?
Danclei – Não. Eu só estou... É, estou vendo se tem... se tem vezes que... a gente não sabe...
Dúlei – A gente sabe o que, Danclei?
Danclei – Se a gente sabe se vai ter jeito...
Dúlei – Ô, Dânclei, você ta ficando maluco também. De maluca aqui em casa já basta a Tia Assíria.
Danclei – Não, Dúlei... Não... Eu só queria saber se... se... se você lembra...
Dúlei – Lembra do quê, Danclei.
Danclei – Lembra daquele dia de quando a gente era menor e...
Danclei leva a mão ao rosto do irmão.
Dúlei – Ih, pára com isso.
Danclei – Dúlei, você acredita em...em déjà vu?
Dúlei – Pô, meu irmão, não sei nem o que significa isso. Fala minha língua. Olha só vai pra tua aula, vai, Danclei. Pô, gosto de escutar meu som alto e só agora é que a casa fica vazia, sem ninguém. O único horário para eu escutar meu som é esse. Vai.
Dúlei conduz Danclei para fora de cena. Dúlei dança sozinho em cena. Conforme ele mesmo disse, coloca um som alto, mas também se apodera de uma xícara, de um colher, de um saco que contém uma substância porosa e uma borracha, para simular o aplique de heroína. Entretanto só vai sugerir, e o ato de aplicar não estará explícito na cena. Pequena Jeam entra e vê a cena. Se compadece e se agacha para ficar próximo do irmão.
Dúlei – Eu tenho que esquecer aquele dia. Vou fazer de tudo, tomar de tudo, para esquecer aquele dia.
Pequena Jeam – Só Jesus liberta da prisão. Que parece liberdade mas é prisão?
A luz vai se apagando morosamente.
Dúlei – Você sempre canta essa música para mim. Você nunca vai desistir de mim, né, pequena Jeam.
Pequena Jeam – Eu nunca vou desistir de você. Nunca.
No B.O. Pequena Jeam sai de cena. Coreografia com samba com as meninas vulgares tentando pisotear Dúlei, e ele se esquiva, rolando pelo chão. A coreografia se interrompe com uma entrada brusca de pequena Jeam e Assíria. Esta agride aquela com um tapa de fora de cena. Pequena Jeam cai simultaneamente com sua entrada em cena.
Assíria – (em cena, com o gato no colo) Eu não já te falei para não passar pano molhado no meu quarto? Quantas vezes eu já te falei isso. Nada que a gente te fala, você ouve. Nada! E eu tenho quase certeza de que foi você, sua peste! Foi você que roubou minhas jóias. Ninguém entra no meu quarto a não ser você. Vou falar para a minha irmã ficar te vigiando enquanto você limpa meu quarto. E pelo amor que você tem a Deus. SEM PASSAR PANO NO QUARTO.
Pequena Jeam – (mansa) Como você quer que aquele cheiro de cocô de gato saia sem muita água e desinfetante?
Assíria – Não sei. Dá teu jeito! Outra coisa, NÃO GRITA COMIGO! ENTENDEU?! NÃO GRITA COMIGO! Que petulante... Além de ser uma bastarda, acha no direito de tratar a gente mal. Não vou te chamar de bastarda mais não. Vou te chamar de ABESTADA, pois você não passa de uma besta! Se houvesse faculdade de quem é mais besta você ia ser graduada com louvor. Vou inventar o termo bestialismo. É, bestialismo. Vai significar: aqueles que se comportam igual a pequena Jeam.
Pausa.
Pequena Jeam – Mas... já existe essa palavra.
Assíria – Ah, já existe. E você lá sabe de alguma coisa pra vir me ensinar, menina.
Pequena Jeam – Sei, porque tem na Bíblia. E a bíblia condena o bestialismo.
Assíria – Bom, então me fala, porque de bestialismo ninguém melhor para falar do que você, né sua besta.
Pequena Jeam – Bom, não vou ser direta, mas é alguma coisa relacionada a amor excessivo a animais. Talvez devido a uma frustração causada por uma desilusão amorosa.
Assíria fica pasma. O gato fica se roçando em sua perna. Assíria sai de cena com expressão de assombro. O gato não gosta da saída de Assíria, pois sua cabecinha cai no chão, já que este estivera deitado no colo de Assíria. Entretanto, após a saída da Assíria o Gato dança o hip-hop“Prudente como as serpentes”.
Ariobar, de fora da cena, com um tapa, joga Massara em cena.
Ariobar – Eu sei que foi você! Eu sei que foi você!
Massara – Não fui eu!
Ariobar – Foi você que bateu na Pequena Jeam.
Todo elenco entra em cena e Massara se levanta. Todos cantam “Jeam, Jeam, Jeam. Pequena Jeam”.
Massara – Você sabe que não fui eu.
Ariobar – (vociferando) E quem mais seria senão a única que tem motivos para não gostar dela? Quem mais seria. Me ouve, Massara. Cada vez que eu encontrar uma marca nela, você terá uma marca em você!
Ariobar sai de cena. Mais uma vez a música lenta. Pequena Jeam, também com o olho rosto, entra em cena e consola Massara. Ariobar entra em cena com uma camisa queimada com uma marca de ferro de passar, e ameaça investir novamente contra Massara, mas se surpreende com Pequena Jeam a consolando e fica escondido observando a cena. Esta se desfecha em B.O.
Meninas vulgares, Assíria, Danclei, Dúlei e o gato farão uma coreografia de Tecno. Depois, só as meninas vulgares farão uma coreografia com outra música. Pequena Jeam, em pantomima, exprime durante a mesma música a crucificação e ressurreição de Cristo. As meninas vulgares a ridicularizam com risadas sarcásticas. Entretanto, Pequena Jeam não se decepciona, e continua mantendo um sorriso nos lábios.
As meninas tossem. Dúlei e Danclei entram em cena também tossindo. Estes e aquelas dançam tecno.
Um minuto de silêncio no palco.
Cena do espelho com os seguintes pares.
DÚLEI E DANCLEI
ASSÍRIA E ARIOBAR
DUAS MENINAS VULGARES
Depois da cena do espelho sugerido com as duplas descritas anteriormente, B.O. e todos imitando somente um reflexo, a imagem do diabo refletida. Esta fará a dança do ventre. Depois, rodará inúmeras vezes em torno de seu próprio eixo. Os demais caem, mas o diabo não.
Diabo – Ah, ah, ah! De tanto que vocês me imitam vocês ficam cada vez mais parecidos comigo! Ah,ah,ah!
Diabo sai de cena. Pequena Jeam entra em cena, fazendo passos de ballet, distribuindo “sementes” (folhetos evangelísticos) pelo chão. Todos catam, com muita curiosidade, tais folhetos, e os lêem com muito interesse.
Cena pantomímica. Ópera exprimindo uma família sadia. Ariobar trata bem Massara. Assíria coloca o gato para fora. Dúlei entra em cena com um saco transparente (nele há uma colher, uma seringa e uma vela) e o joga no lixo. Danclei entra em cena e abraça seu irmão. As meninas vulgares entram em cena. Ambas abraçam Danclei. A segunda dá um abraço mais demorado e abusado em Danclei. Esse, delicadamente, aparta-se deste abraço excessivo e apresenta a irmã para o irmão, que sugerem estar encetando um papo agradável.
Pequena Jeam entra em cena, observada por todos com admiração, numa cena semelhante a entrada de cena inicial de Ariobar. Todos cantam a música, dançando alegremente.
“PEQUENA JEAM. A SOLUÇÃO PARA MIM. PEQUENA JEAM”
No final da dança, todos se prostram diante de Pequena Jeam, causando-lhe um incômodo, que inicia um veemente monólogo.
Pequena Jeam – Meu Deus! Meu Deus! Vocês não entenderam nada! Será que vocês ainda não perceberam que eu não sou digna de adoração. Jesus Cristo, gente, Jesus Cristo é que foi o responsável pela mudança da vida de vocês. Eu só fui um instrumento! Um mero instrumento. Eu sou cheia de falhas, humana como vocês, e não sou digna de ser adorada. Eu gostaria de saber por que, por que as pessoas gostam transformar admiração em idolatria. Sim, há pessoas boas na terra, isso é inegável, mas só há um mediador entre Deus e os homens, logo, só, um, a saber, Jesus Cristo, que é digno de adoração. Sabe, gente, eu não entendo como ainda as pessoas cometem o mesmo erro. E o que pior, muitas vezes com personagens bíblicos, os quais cansaram de ensinar que somente devemos fazer o que Jesus disser, como Maria no episódio das bodas de Caná. Pedro e Paulo, tão idolatrados, cansaram de mostrar que não é para se encurvar diante dele, pois somente devemos nos prostrar diante de Deus, de Jesus. Até mesmo um anjo ensinou a João isso! E por que vocês insistem em errar na mesma coisa, idolatrando cantores, artistas, líderes e... e...e até mesmo pessoas boas. A gente vê por aí todo mundo endeusando personalidades, como Madre Tereza de Calcutá, Mahatma Ghandi, Padre Cícero, só porque fizeram boas obras. Em primeiro lugar, essas personalidades não as fizeram por enaltecimento próprio, logo, não gostaria de ser reverenciadas por isso. Apenas demonstraram que devemos amar uns aos outros. Já Jesus Cristo aceitou a adoração por ser ele o próprio Deus encarnado. E eu não sou a Divindade encarnada, e por isso, não quero ser adorada. Entenderam? Eu não sou a divindade encarnada, por isso, não quero ser adorada! Não quero ser adorada! Não quero ser adorada!
Pequena Jeam este extremamente ofegante. Danclei a interrompe.
Danclei – Pequena Jeam. Tenha paciência com a gente. Lembre-se de que somos crianças na fé. Não sabemos nem ainda discernir a mão esquerda da direita em assuntos espirituais. Você conhece muito bem a Bíblia, e viu como Deus agiu quando Jonas se mostrou totalmente impaciente com os pecados da população de Nínive. Não é esse o nome, Nínive?
Ariobar – É verdade, pequena Jeam. Precisamos que você seja paciente com a gente. Aos poucos nós vamos aprendendo. Por exemplo, no meu serviço, de garçom, o meu patrão nos ensina a agir com mais delicadeza com pessoas difíceis.
Dúlei – Claro, pequena Jeam. No meu caso, por exemplo, o vício de drogas. Eu não era somente dependente físico, mas químico. Quando o meu organismo entra em crise de abstinência, você sabe como eu fico. É devagar, pequena Jeam, é devagar...
Assíria – Também concordo, pequenina Jeam. Como será que a minha carência afetiva será suprida logo por outro substituto? Até lá, também terei crises como a do Dúlei, mas farei de tudo para me controlar.
Danclei – E lembre-se do que está escrito na Bíblia que você tanto leu e releu. A palavra dura atiça a ira, mas a palavra branda desvia o furor.
Pequena Jeam – Ah, me perdoem, gente. Sabem como é, né? Eu também sou humana. Eu sou falha. E além do mais, estava guardando essa explosão há anos. Bom. Vamos ver se eu consigo me redimir. Bom, Danclei, meu amado irmão. Sei que você, mais do que eu, leu e releu a bíblia, não com os olhos espirituais, mas como um livro qualquer. E agora que você finalmente percebeu a riqueza espiritual desse livro, me ajude, instruindo os mais limitados. Você tem potencial! E você, pai, não bata mais na sua mulher, né? Já viu como a sua mão é pesada? Dúlei, meu maninho... Seu organismo já tem bastante neurotrasmissores para o seu bem estar. Não é preciso você ficar ingerindo mais substâncias. E sobre a crise de abstinência, é questão de tempo, até seu organismo voltar a produzir neurotrasmissores como antigamente. Assíria... Sozinha você não vai conseguir resolver seus problemas. Só vai conseguir se entrega-los a Deus. Se tentar preencher esse vazio que todo o ser humano tem dentro de si do tamanho de Deus, como dizia o filósofo Pascal, com outra coisa que não seja Deus, você se frustrará. Portanto, deixe Jesus entrar no seu coração e agir por você. E por favor, gente, não me adorem. Adorem a Deus. Bom, gente, meu jeito de falar melhorou?
Todos – Agora sim, pequena Jeam.
Danclei – E sobre a música com erros, digamos, teológicos, não é preciso deixar de cantá-la por isso. É só corrigir o que está errado. Vamos lá.
Todos – “PEQUENA JEAM! FALOU DE CRISTO PRA MIM! PEQUENA JEAM”!
Todos estão em cena papeando sorridentes. Raquel entra em cena.
Raquel – Viram gente. Depois que Jesus passou a reinar na casa da pequena Jeam, tudo ficou diferente. Ariobar agora não se diverte mais socando a cara da Massara. Só ajuda Massara a socar o alho... As duas meninas vulgares não mais justificavam suas atitudes dizendo que toda forma de amor é justa porque descobriram que pornéia não é uma forma de amor... Dúlei parou de tomar de pico na veia, de fumar maconha e de cheirar cocaína (é, ele fazia isso tudo), além de ter confessado que roubava coisas dentro de casa para comprar drogas, inclusive as jóias da Assíria... Danclei percebeu que é melhor raciocinar do que racionalizar, e que namorar um pouquinho, decentemente, não faz mal a ninguém... Massara não é mais analfabeta, já que se tornou evangélica, e o evangelho é um dos responsáveis pelo fim do analfabetismo devido ao interesse por aprender a ler a Bíblia, a Palavra de Deus... e pequena Jeam agora ficou mais feliz. Só Assíria que não teve um bom fim, apesar de estar com essa cara de riso nessa cena. Ela insistiu em resolver seus problemas de carência por si só, ao invés de depositar a sua confiança em Deus. Então, ficou dependente de calmantes, e não mais de gatos. Ah, e por falar em gato, até pro meu lado as coisas melhoraram. É verdade. Sabe gente, eu fui promovida. Agora não vou fazer mais o papel de gato da família da pequena Jeam, e sim... o cachorro da família da pequena Jeam. E ao invés de fazer miau, miau, miau, miau, miau, vou fazer...
Todos – Au, au, au, au, au...
Todos riem.
Todos – Jesus te ama. E quem não crê em Jesus vai pro inferno!
O elenco sai lentamente de cena.
Fim
Glória a Deus